O filme “Nascimento de uma nação”, de 1915, do diretor David Griffith, mostra homens negros como violentos, estupradores de mulheres brancas e bestializados. Uma das estreias do longa-metragem foi organizada pelo presidente dos Estados Unidos Thomas Woodrow Wilson, na Casa Branca.
Em decorrência da influência da "obra" na sociedade estadunidense, nos anos seguintes ao lançamento”, movimentos criminosos como a KKK (Ku Klux Klan) ganharam novo ímpeto. Mesmo sendo inocentes, milhares de negros foram condenados à forca, morreram em cadeiras elétricas ou foram brutalmente espancados, sob falsas acusações de crimes como roubos, assassinatos e violência sexual. O filme serviu para reforçar e divulgar a ideia, como construção social, de que homens pretos são bandidos, desonestos e perigosos.
No Brasil, também é assim. Dados do estudo “Pele Alvo: a Bala não Erra o Negro”, realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, mostra que a cada 100 mortos pela polícia em 2022, 65 eram negros. Além disso, a massa carcerária é formada, em sua maioria, por jovens pretos. Tal realidade existe no país, em partes, porque somos sempre vistos como ameaçadores.
Questionei a vereadora Mariana Conti (Psol), pelo WhatsApp, e ela me bloqueou, sobre um militante racista de seu partido, o professor de escolas públicas de Campinas e Sumaré, Renato César Ferreira Fernandes, referente à acusação racista que ele fez contra mim. Após uma reunião em que o psolista estava, fui embora para minha casa. Passado alguns minutos, o preconceituoso me ligou perguntando se eu havia pego a chave da casa dele, para roubá-la. É isso mesmo.
Depois, ele encontrou as chaves no console do carro dele. Na reunião, eu era a única pessoa preta. Nenhum branco recebeu nenhum tipo de telefonema calunioso. Renato é um racista confesso. Tenho conversas com a admissão da culpa devidamente guardadas.
Mas retomemos: Mariana divulgou uma nota após o meu primeiro texto sobre o assunto, por meio Ouvidoria da Câmara de Campinas, na qual mente de forma descarada, não diz uma linha sobre o caso em que sou vítima de racismo, por isso defende o bandido, e ainda reforça o estereótipo do “homem negro” violento, ao afirmar que estou sendo “intimidador”, fazendo “ameaças” e a “constrangendo”.
Mariana deve ter aprendido tais métodos de desqualificação, e de calúnias contra pessoas pretas, com o diretor de cinema David Griffith, sulistas norte-americanos, os blasfemos membros da KKK e com o Estado brasileiro, que há séculos promove um verdadeiro genocídio do povo preto.
Cara Mariana, não sou uma ameaça contra ninguém. Os meus punhos são as teclas do meu notebook, e só. Por isso, você mente, de forma desavergonhada, quando afirma que ajo para "ameaçá-la". Nós vamos debater essas questões no Poder Judiciário.
Renato César e a parlamentar psolista, em suas cabecinhas pequeno-burguesas, lá no fundo, acreditam que homens negros são ladrões, estupradores, assaltantes de casas e violentos. Embora digam que são antiracistas, no dia a dia, nas atitudes, eles provam exatamente o contrário.
O linguista russo Mikhail Bakhtin, considerado o pai da Análise de Discurso, muito sabiamente fez essa formulação: a todo instante, sem nos darmos conta, extravasamos quem de fato somos por meio das atitudes e discursos. As subjetividades sempre brotam por meio das palavras e frases. Por isso, Renato disse que eu peguei as chaves da casa dele, e agora Mariana me coloca num lugar de homem "ameaçador". A nota de Mariana Conti, que posto abaixo, é uma comprovação.
Para esses militantes do Psol, quando a chave de casa some, quem pegou foi o homem negro presente no ambiente. E se esse ser humano demonstra sua dor e indignação, e faz queixas, ele está sendo “intimidador”, “ameaçador” e causando “constrangimento”. Qual é o nome disso? Racismo estrutural.
Questionei Mariana porque ela foi a integrante da legenda mais votada em Campinas no pleito passado, e em tese está num partido que defende minorias e excluídos. No mínimo, ela foi omissa, e hipócrita, considerando os discursos que ela faz da Câmara de Campinas.
Nesta quarta-feira (15), informei o caso ao vereador Paulo Búfalo (Psol) e solicitei os contatos da comissão de ética da sigla, e escreverei uma coluna com o posicionamento do parlamentar. Também vou publicar uma coluna com a manifestação do presidente do Psol de Paulínia, o Professor André, sobre o episódio das chaves. Por serem do mesmo partido, a questão é coletiva. Racismo é um crime que não prescreve, e que sempre deixa feridas abertas nas vítimas, por anos. Seguirei.
Nota de Mariana Conti sobre os meus textos:
“O PSOL é um partido comprometido com a luta antirracista. Tem fóruns e instâncias para lidar com as denúncias. Lembrando que reafirmamos que racismo é crime. Nosso mandato segue a risca esse compromisso de luta antirracista. Não sou a única parlamentar do partido na cidade e não faço parte das instâncias de direção deste, a tentativa de me responsabilizar por esta acusação é descabida e oportunista. Não vamos aceitar calúnias e nem intimidações. As esferas local e estadual do partido já estão acompanhando o caso, assim como foi feito o registro de Boletim de Ocorrência das ameaças e constrangimentos que tenho sofrido por parte do autor da matéria. Racismo não se combate com violência de gênero. Atenciosamente, Mariana Conti”
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