O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, mergulha fundo na história da família Paiva e na luta de Eunice Paiva, mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva, contra o regime militar no Brasil. Inspirado no livro homônimo de Marcelo, a produção revela um dos períodos mais sombrios da história recente do país e transforma uma história pessoal em um grito poderoso contra o fascismo
O cinema brasileiro fez história na noite de hoje (3) na 97ª edição do Oscar, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, foi o grande vencedor na categoria de melhor filme internacional. Uma conquista inédita para o cinema brasileiro.
O filme brasileiro superou Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia).
Nos anos 70, o Brasil enfrentava a brutal repressão da ditadura militar. Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres em sua juventude e por Fernanda Montenegro em uma fase mais madura, viveu os horrores dessa repressão. Casada com o deputado federal Rubens Paiva, Eunice viu sua vida mudar radicalmente quando seu marido foi sequestrado, torturado e assassinado por agentes da ditadura em 1971. Rubens foi preso em casa, na frente da família, e levado para o DOI-CODI, onde sua morte foi encoberta por anos. O desaparecimento de Rubens Paiva foi oficialmente reconhecido apenas décadas depois, em 2014, por meio do relatório da Comissão Nacional da Verdade.
Mesmo diante da tragédia, Eunice Paiva não se deixou abater. Mãe de cinco filhos, ela lutou incansavelmente para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com seu marido. Ao longo dessa jornada, enfrentou as autoridades da ditadura e se dedicou à busca por justiça. A luta de Eunice tornou-se não apenas uma batalha pessoal, mas um símbolo de resistência contra a opressão, sendo fundamental na campanha para o reconhecimento das mortes e desaparecimentos ocorridos durante o regime.
Depois da prisão e assassinato de Rubens, Eunice transformou sua dor em ação. Ela voltou aos estudos, formou-se em Direito e passou a atuar na defesa dos direitos dos povos indígenas e outras causas sociais. Sua dedicação e coragem foram decisivas para mudanças importantes no cenário político brasileiro, especialmente na Constituinte de 1988, quando participou ativamente da formulação dos direitos das populações indígenas.
O filme “Ainda Estou Aqui” destaca essa luta de Eunice não só contra o regime militar, mas também contra as próprias adversidades da vida. Nos últimos anos, a personagem enfrentou a doença de Alzheimer, que trouxe outro nível de complexidade ao drama da família. Mesmo assim, seu legado de força e resiliência permanece vivo.
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